2 de maio de 2025
Saúde Sociedade

Saúde no Brasil: avanços e desafios

O aumento da expectativa de vida no Brasil impõe novos desafios ao sistema de saúde, que precisa integrar prevenção, tecnologia e sustentabilidade para garantir acesso universal e qualidade no futuro

 

A saúde passou por um período crítico no Brasil durante a pandemia de Covid-19, quando mais de 690 mil pessoas perderam suas vidas enquanto crescia a desinformação e autoridades públicas desestimulavam a imunização. Políticas públicas importantes foram enfraquecidas e subfinanciadas, afetando diretamente a população. O número de novas ambulâncias do SAMU na gestão federal passada foi de apenas 366 unidades. Houve acúmulo de cirurgias e procedimentos eletivos não realizados por falta de orçamento para estados e municípios. O Farmácia Popular foi esvaziado, limitando o acesso a medicamentos essenciais com corte de 60% nos recursos e interrupção no credenciamento de farmácias. E o Mais Médicos foi reduzido, contando com apenas 13,7 mil profissionais em 3.577 municípios.

Nos dois primeiros anos do Governo Lula 3 algumas melhorias precisam ser reconhecidas. Mais de 4.700 novas equipes de Saúde da Família foram criadas, junto com 3.448 equipes multiprofissionais, reforçando a atenção primária em 2.500 municípios. Mais de 4.300 novas equipes do Programa Brasil Sorridente e novos centros odontológicos triplicaram o investimento em saúde bucal. Foram entregues mais de 2.067 ambulâncias aos estados e municípios, tanto para expansão do serviço quanto para renovação de veículos com mais de 10 anos de uso. Mais de 14 milhões de cirurgias eletivas foram realizadas pelo SUS em 2024 (aumento de 37% em relação a 2022). O Farmácia Popular foi ampliado para 444 novos municípios, oferecendo gratuidade para todos os remédios e insumos do programa. O Mais Médicos agora conta com mais de 26 mil profissionais levando atendimento a 4.348 municípios de todo o Brasil. E o Novo PAC está expandindo a infraestrutura e os equipamentos de saúde em todos os estados brasileiros, com: 15 Hospitais Regionais; 55 Policlínicas; 30 Centros Especializados em Reabilitação; 23 Oficinas ortopédicas; 204 Centros de Atenção Psicossocial; 3.046 Unidades Básicas de Saúde; 424 Unidades Odontológicas Móveis; Novo Campus do Instituto Nacional de Câncer; 2 Centros especializados do Grupo Hospitalar Conceição; 69 novos equipamentos de radioterapia; e expansão da telessaúde, com 834 kits de teleconsulta para 555 municípios.

E o futuro? Em todo o mundo os sistemas de saúde enfrentam pressões cada vez maiores devido ao envelhecimento populacional, ao aumento de doenças crônicas e às demandas por tecnologias avançadas. O envelhecimento populacional está diretamente relacionado ao aumento de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares, que exigem tratamentos prolongados e frequentes. Esses cuidados, embora essenciais, aumentam os custos do sistema público de saúde. No Brasil, que oferece o sistema público de saúde universal mais amplo e abrangente do mundo, essa realidade traz desafios específicos e urgentes, exigindo um planejamento que priorize a sustentabilidade financeira, a infraestrutura e o acesso igualitário à saúde.

A expectativa de vida dos brasileiros aumentou nas últimas décadas, com projeções indicando uma população significativamente mais velha em 2050. Este envelhecimento traz uma alta demanda por cuidados especializados, que incluem tanto assistência básica quanto serviços hospitalares intensivos. Para atender essa demanda crescente, o sistema de saúde precisa de um planejamento robusto, que amplie a capacidade de atendimento de maneira sustentável e acessível.

Para enfrentar as demandas atuais e futuras, é preciso fortalecer as políticas de saúde preventiva, focadas na redução da incidência de doenças crônicas e no estímulo ao autocuidado. Estudos da Fiocruz e do Ministério da Saúde indicam que a prevenção pode aliviar a pressão sobre os serviços de alta complexidade e melhorar a qualidade de vida da população. Países nórdicos, por exemplo, têm investido significativamente em programas preventivos e observado resultados positivos em termos de redução de internações hospitalares. Investir em programas de saúde preventiva, como o controle do tabagismo, campanhas de vacinação e educação para uma alimentação saudável, é fundamental para conter a escalada de doenças que requerem tratamento contínuo.

Para que essas e outras políticas sejam eficazes, é essencial modernizar os serviços de saúde, com ampliação do uso de tecnologias digitais e descentralização das unidades de atendimento, para que as populações mais distantes também tenham acesso a cuidados de qualidade. Estratégias como a telemedicina e o uso de dados de saúde digitalizados podem ajudar a melhorar o monitoramento de pacientes e reduzir os custos com internações desnecessárias, ao mesmo tempo em que ampliam o acesso aos serviços. A implementação de sistemas digitais para gestão de dados de pacientes, agendamentos e atendimentos pode reduzir custos e otimizar os recursos disponíveis. Além disso, tecnologias como a inteligência artificial e o aprendizado de máquina permitem diagnósticos mais rápidos e precisos, enquanto a telemedicina se tornou uma solução eficaz para ampliar o acesso, especialmente em áreas remotas.

O planejamento em saúde pública deve levar em consideração o crescimento populacional, o envelhecimento e os impactos das mudanças climáticas, que afetam diretamente a incidência de doenças e a disponibilidade de recursos. A sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro depende de políticas que olhem para o futuro e priorizem a integração de serviços, o financiamento adequado e o uso eficiente de recursos. No entanto, por maiores que venham a ser os avanços em termos de gestão e incorporação de novas tecnologias, é difícil imaginar que os ganhos de eficiência possam superar os aumentos de custos associados às novas tecnologias e ao aumento da demanda decorrente do envelhecimento populacional.

Essa situação exigirá difíceis escolhas alocativas em meio às pressões pela: i. redução das despesas públicas na área de saúde partindo de agentes privados interessados nos lucros potenciais da prestação de serviços atualmente ofertados pelo SUS; e ii. ampliação dos gastos públicos com a aquisição de equipamentos, insumos e serviços ofertados por agentes privados, com destaque para as grandes corporações internacionais.

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Jaqueline Nunes é jornalista e gestora pública com 10 anos de experiência em assessoria de comunicação governamental.

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