Segurança pública vai além da repressão: exige prevenção, tecnologia, direitos humanos e confiança entre polícia e sociedade. Soluções duradouras enfrentam causas estruturais da violência e promovem inclusão, educação e cidadania
Divulgado nesta semana pelo Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Atlas da Violência 2025 traz informações importantes como a redução de 2,3% na taxa de homicídio entre 2022 e 2023. Com isso, o Brasil atingiu o índice de 21,2 crimes desta natureza por 100 mil habitantes, o menor dos últimos 11 anos. Apesar da melhora, segue sendo um grande desafio reduzir os homicídios no país, pois 45.747 pessoas perderam as vidas por essa causa em 2023. Outro ponto destacado no Atlas é a mudança do padrão de criminalidade. Em 2023 observou-se redução em quase todos os crimes contra o patrimônio praticados na rua, no comércio e nas residências. Por outro, o estelionato praticado em meios digitais alcançou quase dois milhões de registros de ocorrência no mesmo ano (um golpe a cada 16 segundos).
Uma das principais preocupações apontadas pelos brasileiros em pesquisas de opinião, a segurança pública impacta tanto a qualidade de vida da população quanto o desenvolvimento social e econômico do país. Mas não é com bravatas que os problemas serão superados. A experiência internacional mostra que a segurança pública não pode ser alcançada apenas com repressão; é preciso promover um sistema de segurança inclusivo e preventivo, que atenda às causas estruturais da violência e promova o bem-estar da população.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, investir em políticas de prevenção ao crime, especialmente voltadas para juventude e áreas vulneráveis, é uma das maneiras mais eficientes de reduzir a violência no longo prazo. Programas de inclusão social, educação e capacitação para jovens em situação de risco têm se mostrado eficazes em outros países, promovendo alternativas ao envolvimento com o crime. Em locais onde a criminalidade foi reduzida com sucesso, como em algumas cidades dos Estados Unidos e da Europa, políticas de segurança preventiva envolveram parcerias entre governos, sociedade civil e setor privado. Esse modelo integrado se mostrou eficiente ao abordar o problema da segurança de maneira multidimensional, incluindo educação, emprego e infraestrutura urbana, de modo a atacar as causas socioeconômicas da violência.
A modernização dos sistemas de segurança pública também é essencial para que as forças policiais atuem de maneira mais estratégica e eficaz. A implementação de tecnologias de monitoramento, inteligência artificial e análise de dados permite que os gestores de segurança identifiquem padrões de criminalidade, antecipem riscos e otimizem o emprego de recursos. Por exemplo, sistemas de mapeamento criminal em tempo real e câmeras de monitoramento integradas têm sido utilizados com sucesso em várias cidades ao redor do mundo. Para o Brasil, é crucial que esses recursos tecnológicos estejam associados a políticas de capacitação e formação dos agentes de segurança. A qualificação das forças policiais no uso de tecnologias digitais pode melhorar consideravelmente a capacidade de resposta às ocorrências, reduzindo a criminalidade e garantindo uma resposta rápida e adequada.
O respeito aos direitos humanos e o fortalecimento de uma relação de confiança entre a polícia e a comunidade também são aspectos fundamentais para uma política de segurança pública democrática e eficaz. Países como Portugal e Canadá têm implementado treinamentos de policiamento comunitário com resultados positivos, onde a polícia atua próxima à comunidade e promove uma relação de confiança, reduzindo assim as tensões e aumentando a sensação de segurança.
No Brasil, a violência policial e o envolvimento de policiais com milícias e outras formas de crime organizado geram desconfiança da população, o que dificulta a prevenção e a resolução de crimes. É preciso punir de forma exemplar os policiais envolvidos em atividades ilícitas e valorizar os que exercem suas funções respeitando as leis e os cidadãos. Em paralelo, é preciso aprofundar políticas de desenvolvimento que proporcionem crescimento econômico e oportunidades de trabalhos lícitos, ao mesmo tempo em que se avança nos debates públicos sobre temas polêmicos como a regulamentação do comércio da cannabis sativa, a desmilitarização das polícias estaduais, a redução do encarceramento nos casos de menor periculosidade e a maior participação da sociedade civil na fiscalização da atuação das forças de segurança.
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Jaqueline Nunes é jornalista e gestora pública com 10 anos de experiência em assessoria de comunicação governamental.
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